
- por Dani Goldenberg
Se você está em busca de uma mistura de humor ácido, ficção científica e uma boa dose de reflexão (marca registrada do Bong Joon-Ho), Mickey 17 é para você. O filme traz Robert Pattinson como o protagonista Mickey, um “Descartável”, uma espécie de cobaia humana destinada a morrer e ser clonada várias vezes em uma missão colonizadora. Mas, apesar da premissa perturbadora, o filme brinca com a tragicomédia, deixando o público rindo com uma mão na barriga e a outra, na consciência.
O que mais brilhou para mim foi a atuação de Pattinson, que conseguiu dar vida a várias versões do Mickey de forma espetacular. Ele muda até a voz, o jeito de andar, de falar e as expressões faciais, mas, de algum jeito, ainda conseguimos sentir a essência do personagem em cada versão. Essa habilidade dele em criar essas versões distintas de Mickey, sem perder o que as conecta ao “Mickey original“, é uma das grandes forças do filme.
A relação entre Mickey e a personagem Nasha, interpretada por Naomi Ackie, também vale destaque. Conforme o filme avança, vemos como Nasha oferece um propósito real para Mickey, principalmente quando ele se depara com a versão 18 de si mesmo e decide que, se alguém tem que morrer, esse alguém não é ele. Nasha é praticamente a única que parece se preocupar com o bem-estar do Mickey. Eles têm uma conexão que mostra como, até nas piores situações, pode haver um laço genuíno entre as pessoas.

Falando em relação, ao longo do filme, a gente acompanha a amizade dele com o Berto, personagem do Steven Yeun. Se é que se pode chamar de amigo alguém que só te enfia em cilada atrás de cilada e não dá a mínima pra você.
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Enquanto crítica social, Mickey 17 não poupa ninguém. O filme expõe não só os absurdos do capitalismo, mas também o fanatismo político e religioso, que acabam se misturando. O personagem deMark Ruffalo, Kenneth Marshall, é uma caricatura de figuras políticas bem reconhecíveis, e sua obsessão por poder e dinheiro é contrastada com a forma como os tripulantes da nave se sacrificam, literalmente. Por exemplo: todos na nave comem rações nojentas, enquanto Marshall e sua esposa desfrutam de banquetes com comida de verdade. Apesar disso, uma parcela considerável dos tripulantes idolatra Kenneth e sua Ylfa como seus guias e salvadores.
Fora da nave, no planeta Niflheim, o filme explora a ganância dos humanos, que chegam agindo como se fossem donos do lugar, sem respeitar as criaturas nativas; uma crítica direta aos comportamentos coloniais e imperialistas. Os Rastejadores, que são imediatamente vistos como uma ameaça, acabam sendo mostrados como seres amigáveis e protetores, o que faz a gente refletir sobre como às vezes, tiramos a informação da fonte “vozes da cabeça”.

Em resumo, Mickey 17 é uma obra que mistura comédia, crítica social e ficção científica de uma maneira única. A atuação brilhante de Robert Pattinson, os momentos de humor e tragédia, e as críticas de sempre do Bong Joon-Ho vão te fazer pensar, rir e, com certeza, se sentir desconfortável em vários momentos.
O filme estreou dia 6 nos cinemas do Brasil. Se você já assistiu, comenta aqui embaixo o que achou e nos siga no instagram!
Ah, e na cabine, ganhamos o livro de presente! Vou ler e em breve, volto aqui pra contar mais pra vocês.