- por Nathalia Souza
O universo de Lara Croft é mais do que sagrado para todos os gamers de plantão. Todos nós conhecemos algum jogo dessa personagem, seja pelo seu famoso gráfico “quadradão” ou pelos filmes protagonizados por Angelina Jolie. Uma saga de jogos tão consagrada ganhou uma nova versão mais moderna, e muitos estavam com o pé atrás, porque uma das principais características da Lara, que é o uso de suas duas pistolas, não estaria mais presente. O jogo, Tomb Raider 2013, fez um enorme sucesso, tanto com o público jovem, que estava sendo apresentado a este incrível mundo, quanto com o público mais antigo, que já conhecia de cor e salteado a biografia da Croft.
Atenção, o texto abaixo contém spoilers das histórias dos jogos atuais!
Na data atual, temos três jogos contando a história da nova Lara Croft, o primeiro é o Tomb Raider 2013. Nesse jogo, não há muitos detalhes sobre a vida da personagem, sabemos que ela decidiu fazer uma expedição com base nas pesquisas de seu pai, o Lord Croft, indicando que na ilha havia algo sobrenatural envolvendo a rainha Himiko, onde a Sam — patrocinadora da tal expedição — decide investigar mais para saber sobre sua ancestral. Estava tudo conforme os planos para chegar na ilha Yamatai, quando o navio afunda. Já iniciamos o jogo de forma frenética, desesperada e também assustada, pois quando a Lara nada até a ilha para se salvar, ela é sequestrada, amarrada e pendurada como se fosse um defunto. Quando escapamos do local, estamos sozinhos, com fome, sem nenhuma arma e perdidos.
No desenvolvimento do jogo, percebemos que a Lara é inocente e otimista em relação à situação, ela sempre pensa que conseguirá salvar todos os seus amigos e, juntos, poderão ir para casa. Mas a nossa protagonista descobre da pior forma a traição por parte da sua tripulação; ela também enfrenta diversas perdas, praticamente a tripulação toda e mais algumas pessoas que vieram resgatá-la. Há nativos em Yamatai, eles não são nada amigáveis e seu líder, o Mathias, quer a todo custo a Sam, por ser uma descendente direta da Himiko. Ela pode dar o seu corpo para a rainha tomar posse e, assim, livrar a ilha da maldição.
Todo sofrimento é pouco para Lara em Tomb Raider 2013: ela é espancada, leva tiros, é furada por uma flecha, e, quando pensamos que não há mais nada para nos atingir, ficamos sem nenhum equipamento à beira da sorte. Lara adquiriu habilidades de furtividade, tiro, escalada e caça, mas foi tudo à força mesmo. Já não bastava os servos do Mathias, têm também os nativos reais da ilha, guardiões da Himiko, altamente treinados. Também precisamos conhecer a história da rainha para poder libertar Yamatai da maldição da soberana. Nessa altura do campeonato, todos os mitos e histórias passam a ser verdade, a tripulação do Endurance está lidando com uma entidade sobrenatural. No final disso tudo, depois de salvar a Sam e escapar só com o Jonah e a Reyes, um sentimento novo é despertado na Lara. Determinação preenche o peito dela para continuar a aventura de arqueologia.
Na sequência da história, temos o Rise of the Tomb Raider. Nesse jogo, Lara e Jonah, que se tornou seu melhor amigo para essas aventuras, enfrentam novos desafios. O jogo é rico em detalhes sobre a vida de Lara, explorando a origem de sua paixão por história e suas motivações. Lara perdeu sua mãe cedo, em um acidente, e, como consequência, seu pai ficou profundamente perturbado. Lord Croft, já conhecido por sua obsessão por artefatos e mitos, passou a focar intensamente no mito da imortalidade após a perda da esposa. Isso o levou à ruína, destruindo sua sanidade. Ele foi pressionado por arqueólogos e curiosos sobre suas teorias, até que, incapaz de lidar com a pressão, Lord Croft cometeu suicídio com um tiro na cabeça. A jovem Lara, ainda abalada pela perda da mãe, encontrou o corpo do pai, o que a devastou completamente.
Lara passou por sessões de terapia e enfrentou a solidão crescente. Esses eventos moldaram seu caráter e culminaram na Lara que conhecemos. Ela nunca superou totalmente esse trauma. A única pessoa com quem ela pôde contar foi Ana, namorada de seu pai antes de sua morte. Ana nunca incentivou Lara a seguir os passos do pai, advertindo que era perigoso e em vão, especialmente a viagem para a Sibéria, em busca de Kitej.
Nessa aventura, Lara está mais preparada, armada e equipada com uma lanterna, já esperando por inimigos, humanos ou não. O que ela não esperava era a presença da Trindade, uma organização poderosa com o mesmo objetivo: descobrir artefatos e desvendar mitos, mas com intenções malignas de controlar o mundo. Lara não estava enfrentando adversários comuns, mas soldados altamente treinados, com tecnologia de ponta. Para complicar ainda mais, o líder da expedição da Trindade na Sibéria era o irmão de Ana.
Ana, que Lara considerava uma confidente, havia se envolvido com Lord Croft por puro interesse, agindo em nome da Trindade. Essa traição abalou Lara profundamente. Mesmo cercada por inimigos, ela conseguiu forjar uma aliança com os nativos da Sibéria, conhecidos como os Remanescentes. O líder deles, Jacob, estava determinado a proteger a relíquia da imortalidade a todo custo, até mesmo de Lara. Contudo, à medida que a relação entre eles se fortalece, Jacob percebe que a única maneira de deter a Trindade é unindo forças com Lara.
Em um ponto crítico, Lara acredita ter perdido Jonah, o que a faz questionar sua própria culpa e decisões: por que tantas pessoas próximas a ela morrem? Seus demônios internos a atormentam, especialmente durante a missão de Baba Yaga, quando ela tem alucinações sobre a morte de seu pai. No fim, Lara derrota Konstantin, irmão de Ana e líder da expedição da Trindade, enquanto Jacob sacrifica sua vida para salvar seu povo. Lara também faz as pazes com Ana, mas em uma cena pós-créditos, Ana é assassinada, deixando claro que os inimigos de Lara ainda estão à espreita.
Em Shadow of the Tomb Raider, Lara está visivelmente mais madura e experiente do que no primeiro jogo, com uma aparência física mais forte e todas as suas armas desbloqueadas desde o início — ela claramente não está para brincadeiras. Além disso, ela desenvolveu a habilidade de camuflagem, refletindo o título do jogo. Mesmo com suas habilidades mais afiadas do que nunca, os traumas relacionados ao pai continuam a persegui-la. O jogo oferece um flashback onde podemos jogar com uma jovem Lara, testemunhando a morte de Lord Croft e vendo suas lembranças das brigas entre seus pais.
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Essas memórias a fragilizam, mas também a fortalecem, motivando-a a continuar sua jornada. Nesse jogo, vemos também o lado ganancioso de Lara. Sua obsessão se torna tão grande que, ao pegar um artefato, ela acidentalmente causa a destruição de uma cidade no México, resultando em várias mortes. O vilão, Dr. Dominguez, constantemente a confronta sobre seu egoísmo, destacando as consequências de suas ações.
Na última parte de Shadow of the Tomb Raider, vemos um lado ainda mais sombrio de Lara. Em um momento particularmente tenso, quando o líder do esquadrão da Trindade mente, dizendo que Jonah está morto, Lara se transforma em uma assassina implacável. Dominada pela vingança, ela mata tudo e todos que cruzam seu caminho. No entanto, sua postura fria e cruel desaparece ao descobrir que Jonah está vivo. Esse reencontro a faz perceber que, apesar de sua sede de vingança, ela precisa de aliados para derrotar a Trindade de uma vez por todas.
Para isso, Lara une forças com os rebeldes de Paititi, uma civilização que protege o artefato capaz de “refazer o mundo”. A Trindade se infiltrou em Paititi, transformando a população local em refém dos seus interesses. Mas, em uma reviravolta surpreendente, Lara recebe ajuda inesperada dos Yaaxil, criaturas sobrenaturais lideradas por Ix Chel, que inicialmente pareciam ser inimigos.
Na DLC de Shadow of the Tomb Raider, testemunhamos um lado ainda mais vulnerável e fragilizado do psicológico de Lara Croft. Ela começa a questionar se o suicídio não seria a melhor saída, mergulhando em uma profunda crise emocional. Esse momento revela o peso insuportável que ela carrega, não apenas pela perda de seu pai, mas também pelas inúmeras mortes de pessoas ao seu redor, pelas quais ela se sente responsável.
Lara relembra várias situações em que amigos, aliados e até inocentes morreram como consequência de suas ações, ou por estarem próximos dela em suas expedições e aventuras. Esses pensamentos a fazem questionar seu propósito, sua capacidade de proteger aqueles que ama, e se toda sua busca por respostas e artefatos realmente vale o preço que foi pago com tantas vidas.
Essa reflexão, apresentada de forma intensa e pessoal na DLC, aprofunda ainda mais a personagem. Lara se vê forçada a enfrentar os demônios internos que sempre tentou suprimir — a culpa, a dor e o trauma de suas perdas. Embora ela tenha se tornado uma arqueóloga destemida e guerreira habilidosa, esse conteúdo extra revela que, por trás de toda a sua força, há uma pessoa que ainda luta contra as cicatrizes psicológicas que acumulou ao longo de sua jornada.
Com o fim iminente da Trindade, Lara finalmente se sente livre, tanto da constante ameaça da organização quanto do fardo emocional da morte de seu pai. Ela compreende que sua obsessão a levou a ultrapassar muitos limites, passando por cima de pessoas e situações em nome de seus próprios objetivos. Ao fim do jogo, Lara Croft é completamente transformada. A jovem inocente que conhecemos no primeiro jogo evoluiu para uma guerreira madura e consciente, com uma perspectiva bem diferente sobre sua vida e o mundo ao seu redor.
Essa conclusão marca o crescimento de Lara ao longo da trilogia, tanto em habilidades quanto em caráter, mostrando que o custo da sobrevivência e da busca pela verdade muitas vezes pode ser pessoal e devastador.
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Nathalia Souza
Artista, tradutora, animadora, programadora e ainda com formação em mecâtronica e marketing, sou uma menina que não sabe bem o que quer da vida. Emo de carteirinha, vivo indo em shows e eventos para aumentar minha coleção de memórias. Vivo no mundo da lua, e talvez seja por isso que me considero astronauta.