Review | Tudo o que você podia ser

Review | Tudo o que você podia ser

Filme mostra o dia a dia de quatro amigas trans e não-binárias, que se acolhem enquanto cada uma enfrenta seus próprios desafios.

Lançado em 20 de junho de 2024, Dirigido por Ricardo Alves Júnior, é um filme que traz o cotidiano de quatro amigas trans e não-binárias, Aisha, Will, Igui e Bremma, que vivem juntas no centro de São Paulo. Cada um está vivendo seus próprios conflitos: Aisha, nos primeiros minutos da trama, visita seu irmão, cunhada e sobrinho, este recém nascido, e é questionada sobre ter uma criança, enquanto se prepara para se mudar pois começará a estudar Ciências Sociais; Will perde seu emprego e fica inseguro sobre sua renda, pois também ajuda sua mãe; Igui vai fazer intercãmbio e fará seu doutorado na Alemanhã; e Bremma lida com o diagnóstico de soro positivo que recebeu há um ano, juntamente com o não acolhimento de sua mãe e preconceitos que sofre no dia a dia.

Aisha e amigas em carro | Imagem: Reprodução do filme “Tudo o que você podia ser”

O longa pode ser considerado de gênero híbrido, trazendo tanto elementos do drama, levando em conta sua roterização, quanto uma linguagem documental, retratando momentos bem descontraídos e improvisados entre o elenco. Nós temos uma narrativa levemente experimental, com muitos planos contemplativos, ás vezes num close, ressaltando bem as emoções não apenas das personagens, mas do próprio ambiente da cena, ás vezes planos abertos, reforçando o ar de cotidiano na história.

É um filme muito calmo e que exala muito carinho, tendo poucos momentos de tensão, que acontecem mais com Bremma numa discussão com a mãe, sofrendo homofobia no ônibus e ao se abrir com suas amigas sobre seu diagnóstico. Em algumas conversas, Aisha e Will contam vivências de racismo e homofobia, mas mesmo assim, são assuntos falados em tom de descontração e humor. A maioria das cenas vemos afeto, acolhimento e celebração entre as quatro, que se despedem umas das outras e do expectador num grande abraço ao nascer do Sol.

Na minha opinião, essa história precisa ser apreciada com a mente aberta, livre das referências dos blockbusters estadunidentes, que podem levar a pensar, por exemplo, que o roteiro não é conscistente ou que qualquer outro aspecto seja precário. Mas é importante lembrar que o cinema brasileiro não recebe tanto incentivo e reconhecimento quanto estrangeiros, tanto nas etapas de pré-produção, no momento dos orçamentos e captação de recursos, quanto na distribuição das obras, tendo pouca ou nenhuma visibilidade se comparado com algum filme de Hollywood. Tendo ciência disso, eu achei o filme muito bonito, feito do nosso jeito e com a nossa linguagem, contando uma história que também é nossa, e que merece ser admirada.

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Gabriele Miranda

Audiovizueira pela FAPCOM, adquiri habilidade de fazer bonecos se mexerem pelo Senac Lapa Scipião. Multi-instrumentista e guitarrista na banda Antena Loka, sou pan, vegana e gateira. No tempo livre, estou jogando em algum emulador, andando de patins ou criticando o capitalismo. Talvez eu encontre algum planeta onde me sinta melhor.

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