Noragami, de Adachitoka, por que amar?

Olá, fãs de Noragami, criaturas sombrias, às vezes meio góticas, que habitam as esquinas mais empoeiradas da internet, seres de fidelidade implacável, porém nem sempre recompensada, que amam todo mangá/anime que tinha tudo para ser um hit atemporal e unânime, mas por ironias e desagrados do destino não é. Vocês não acham trágico e terrível que Noragami não seja hoje aclamado ao redor do mundo? Não acham injusto que Yato tenha ainda que mendigar moedas de cinco centavos por um mínimo de atenção? Eu também acho. Junta aqui. Esse é seu momento. Esse é um texto para exaltar a carismática obra de Adachitoka.

Noragami, publicado desde 2011, pela Monthly Shōnen Magazine, adapta termos e conceitos do budismo e do xintoísmo para narrar uma trama de aventura focada na mesquinhez dos deuses e em suas disputas pela adoração dos homens. Às vezes complexa e profundamente emocional e humana, às vezes num estilo meio comédia de costumes, Noragami é uma jornada tanto de entretenimento quanto de descoberta, traduzindo o multifacetado mundo dos rituais orientais para uma trama cheia de reviravoltas, personagens bem desenvolvidos e expectativas.

Na história, Yato, um deus menor, um deus de calamidade, constantemente ignorado pelas entidades mais altas, desprovido de templo e adoradores, sonha um dia ser uma celebridade, abundante em ofertas, reconhecido entre legiões de seguidores, mas, por enquanto, é meramente um mendigo, rabiscando seu telefone em paredes, banheiros e anúncios de jornal, já que não pode depender realmente das orações de seus pouquíssimos fiéis. Daí o título da obra, Noragami, um deus sem-teto (nora, do japonês, tem o sentido de “sem teto”, “aquele que vive na rua”, já gami, é a forma flexionada de kami, “divindade”). Yato é um deus a domicílio, cumprindo pequenas tarefas, realizando desejos, ao preço fixo de cinco centavos, uma oferenda de sorte. Numa dessas tarefas menores, enquanto tentava resgatar o gato desaparecido de um garoto, Yato conhece Hiyori, e a vida dos dois acaba entrelaçada para sempre, quando a menina meio que por acidente se torna uma crente na divindade dele.

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Além dos dois, a história é também protagonizada por Yukine, um espírito puro, invocado por Yato na forma de uma espada, quando precisa combater alguma entidade corrompido, espectros malignos que surgem das emoções negativas em torno das grandes cidades ou de outros acúmulos populacionais.

Com essa premissa, de um deus desprezado, Noragami traz traços de humor ao subverter os sentidos da adoração, aproximando as necessidades humanadas das necessidades dos deuses, a mediocridade da busca pela fama como uma metáfora primeira e principal. Ao mesmo tempo, quando toca em crenças e mitologias, quando trata das histórias como uma urgência da condição humana, como uma vontade emocional de criar realidades, Noragami também consegue ser profundamente verdadeiro e conceitual.

Os protagonistas

Não é incomum em mangás e animes que a gente frequentemente perca o protagonista de vista, com tantos coadjuvantes interessantes sendo introduzidos na história para preencher o infinito de páginas de uma narrativa seriada. Não é o caso em Noragami. Apesar dos coadjuvantes terem todos seus próprios e inegáveis encantos (certamente uma outra razão para amar Noragami), YatoHiyori e Yukine têm uma relação tridimensional e crível que não cansa a atenção. Tanto a relação forjada de paternidade entre Yato e Yukine (nem sempre fica claro qual dos dois tem a maturidade adequada para exercer a figura paterna e qual dos dois é o filho precisando de orientação, de modo que o roteiro fica jogando de inverter de vez em quando os papéis), quanto a amizade improvisada entre a menina humana o deus mendigo. Pouco a pouco, os três também parecem confeccionar algum tipo de núcleo familiar.

Os antagonistas e suas motivações

Por si só, a maldade não justifica nada no universo de Noragami. Certamente existem atitudes malignas, mas nada tão definidor como a ideia de vilania. Tem muito a ver com o jeito como a cultura asiática percebe as distinções como equilíbrio e não meramente oposição. Nesse sentido, os antagonistas de Noragami aparecem contra Yato e nossos protagonistas, mas não necessariamente contra uma ideia equivocada de bem maior. Bishamon, por exemplo, a deusa da guerra, primeira grande antagonista da série, pode parecer muito mais prudente que Yato em suas boas intenções, embora busque vingança contra um passado misterioso. Nora, a arma sem nome nem dono, obcecada por Yato, ciumenta contra Hiyori e Yukine, também não é realmente malvada, mas toma todas as decisões erradas para conseguir o que quer (um relacionamento doentio de idas e vindas com Yato).

Adachitoka está tentanto acrtar

Noragami é o primeiro trabalho original da artista Adachitoka. Ela está mesmo tentando acertar, embora se diga insegura nas mensagens escritas no fim de cada edição do mangá. O interessante sobre novos autores é que eles têm ideias estranhas e se esforçam mais do que deveriam. Artistas novos às vezes são vencidos pelas águas profundas da falta de experiências, mas podem também subverter o desgaste do mercado com propostas ousadas e rumos pouco convencionais para suas histórias. Noragami tem muito disso. O modo como os personagens se relacionam traz o melhor de dois mundos. Sem ser precisamente distante e evasivo como um típico shounen, sem ser precisamente novelesco e sofrido como um shoujo.

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Texto por: Rámon Vitor

Eu, Astronauta

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