
A nostalgia é uma força poderosa na cultura geek. Ela evoca memórias afetivas de infância, conecta gerações e sustenta franquias que atravessam décadas. Entretanto, como toda força poderosa, ela possui um lado sombrio: a resistência à inovação. Muitas vezes a paixão pelos ícones do passado pode se transformar em uma barreira que impede a aceitação das franquias e o surgimento de novas narrativas no universo geek.
O poder da nostalgia geek
Para muitos, a cultura geek foi um refúgio. Quadrinhos, filmes, jogos e livros ofereceram mundos onde se sentiram aceitos, enquanto o mundo real parecia hostil. É totalmente natural que personagens, histórias e estéticas dessas obras sejam lembrados com carinho e reverência pelas gerações como a minha.

Essa nostalgia construiu um mercado multibilionário, com vários remakes, infinitos reboots, edições comemorativas e expansões de franquias clássicas — Star Wars, por exemplo, continua a lançar novos conteúdos, apoiado por uma base de fãs que começou sua jornada há mais de 40 anos. A mesma lógica vale para games clássicos e para a época de ouro das HQs, que rendem conteúdos até os dias atuais.
Nostalgia ou resistência?
Apesar de trazer uma sensação tão gostosa, o apego ao passado pode gerar resistência à inovação. Muitos fãs criam uma imagem cristalizada de suas obras favoritas, acreditando que qualquer mudança é uma traição ao legado original — talvez porque em alguns casos realmente seja. Assim surgem críticas violentas a novos filmes, séries ou jogos que tentam atualizar ou reinterpretar algum clássico.
Star Wars: Os Últimos Jedi foi um filme que buscou subverter expectativas, mas acabou gerando divisões profundas entre os fãs nostálgicos. Ghostbusters, em seu reboot de 2016, trouxe um protagonismo feminino que sofreu forte rejeição antes mesmo do lançamento. O mesmo ocorreu com minha franquia favorita dos videogames, The Legend of Zelda: Breath of the Wild mesmo sendo tão aclamado, enfrentou críticas de parte da base por “mudar demais” a fórmula tradicional.

Casos como esses revelam como a nostalgia pode transformar o fandom em guardiões do passado, sem espaço para mudanças que possam alterar a lembrança idealizada que possuem. Regidos pelo medo de perder aquilo que é amado ou com um sentimento mais possessivo sobre as franquias, uma vez que o universo geek tende a ser uma comunidade intensa e profundamente apaixonada.
A indústria geek
Essa resistência à inovação pode ter efeitos paralisantes, como as fórmulas repetidas que todos já conhecemos, uma vez que os estúdios optam por seguir roteiros seguros, produzindo mais continuações, remakes e reboots, ao invés de apostar em ideias inovadoras e originais. Criações limitadas, porque roteiristas e diretores sentem-se pressionados a seguir o “cânone” à risca, engessando a liberdade criativa. Desconexão com a geração atual, frustradas com franquias que se recusam a se modernizar.
O equilíbrio
Acredito que o desafio para a cultura geek é encontrar o equilíbrio entre honrar o passado e abraçar o futuro. Mudanças são bem-vindas quando respeitam os valores e o espírito da obra original, mesmo que alterem personagens ou enredos.

Algumas produções que ousaram desafiar o status quo foram essenciais para revitalizar universos inteiros, como Doctor Who, que abraçou a renovação como parte de sua identidade, ou The Mandalorian, que expandiu o universo de Star Wars com novos personagens e estilos narrativos. Apostar no novo, além de revisitar clássicos, dar espaço para novas histórias, personagens e universos é fundamental para a sobrevivência da cultura geek pelos próximos tempos.
Resgatando o espírito geek
A nostalgia geek é uma celebração legítima de tudo o que moldou nossa identidade. No entanto, é preciso vigilância para que ela não se torne uma âncora que nos impede de avançar no conteúdo das franquias que tanto amamos. Afinal, o verdadeiro espírito geek é movido pela curiosidade, pela imaginação e pelo desejo de explorar o desconhecido.
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Miguel Felipe
Um geek, analista de sistemas, especialmente viciado em café, livros, tecnologia, histórias em quadrinhos, videogames e ficção científica. De cabelo bagunçado, sempre com fones nos ouvidos, um livro na cara, All Star nos pés e que passa o fim de semana estudando, assistindo alguma coisa na Netflix ou com um joystick nas mãos.