Review | Ado – A primeira vez no Brasil

Review | Ado – A primeira vez no Brasil

Na última quinta-feira (13), a cantora japonesa Ado se apresentou pela primeira vez no Brasil e já adianto: foi muito bom! O show trouxe uma setlist repleta de sucessos e entregou uma experiência única, daquelas que ficam na memória.

Antes de falar do show em si, um pouquinho sobre quem é essa mulher incrível: Ado começou ainda adolescente, fazendo covers de Vocaloid no fundamental. Rapidamente ganhou destaque e, em 2020, fechou contrato com a Universal. Daí pra frente foi só hit atrás de hit — até trilha sonora pra One Piece ela já fez. Inimiga de música ruim, essa é a verdade. Mas além de ter uma voz absurda e um jeito de cantar bem incomum, Ado também tem algo que a torna única: sua privacidade. Bandas mascaradas a gente já conhece (Slipknot, Ghost, Daft Punk…), mas Ado joga em outro nível. Ela se apresenta dentro de uma gaiola de LEDs, deixando à mostra só a silhueta. E isso não é estética: é filosofia.

E não pense que a questão da privacidade é só “pose”. No show em São Paulo, a segurança foi duríssima. Eu tentei fotografar apenas a placa que dizia “não pode tirar foto” para postar que não podia tirar foto e já veio uma segurança me enquadrar, olhando até minha galeria. Para a imprensa, complicado. Mas para o público? Maravilhoso. Eu tenho estatura mediana (1,59m) e sempre sofro com celulares levantados na minha frente em show. E dessa vez? ZERO celulares! ZERO telas! Só ser feliz! Foi libertador.

Foto/reprodução: Viola Kam
Foto/reprodução: Viola Kam

Agora sim: e o show? Só não digo que foi perfeito porque começou com um atraso de 45 minutos. Gente, japoneses não eram pontuais? Foi a primeira vez que vi isso num show, e o mais curioso: sem explicação, sem pedido de desculpas, nada. Só o vazio do relógio correndo.

Mas quando finalmente começou com a pedrada Ussewa… aí sim! A energia explodiu e se manteve altíssima até o final. O público balançava seus lightsticks e eu, com minha humilde garrafa d’água, estava igualmente feliz — sem discriminação de lightstick improvisado.

E teve um momento que foi só meu: quando começou Value, minha favorita. Nossa, que experiência! Escutar ao vivo foi como mergulhar no mar: ondas, azul, correntezas. Não sei nem explicar, parecia que a voz da Ado fazia uma massagem no meu cérebro. Eu fechei os olhos e deixei as melodias me abraçarem. Foi lindo, foi surreal. Ah, e detalhe: como eu escuto muito a Ado no YouTube e nunca presto tanta atenção nos nomes em japonês, fiquei perdida várias vezes. Era eu olhando a setlist escondida na bolsa e pensando: “meu Deus, que música é essa?”… até começar e eu soltar um “aaaah, essa!!!”.

Ado também conversou bastante com a plateia. Algumas falas eram traduzidas no telão, outras em inglês, mas a maior parte foi em japonês (ainda bem que tinha uma pessoa perto de mim traduzindo). Ela contou sobre como sempre amou cantar, mas recebia críticas por ter um jeito “estranho” de cantar. Por isso, se isolava no closet, com a única luz sendo a do computador, cantando sem parar enquanto a mãe gritava “canta mais baixo!”.

Foto/reprodução: Viola Kam

Esse relato conecta muito com o que o ator e pedagogo Philippe Gaulier chama de “prazer de estar em cena”: cada artista encontra sua forma de sentir prazer no palco. Alguns brilham com a plateia olhando nos olhos, outros, como Ado, encontram sua zona de conforto em um espaço protegido. Para ela, a “gaiola de LED” é como aquele closet de infância: um lugar seguro onde pode cantar livremente, sem julgamento. E, sinceramente? Eu super entendo. Se eu fosse cantora, também ia querer rodar igual peão dentro da gaiola sem medo de alguém tirar foto minha pra virar figurinha no WhatsApp.

E sobre a voz: não tem como descrever. Ela canta melhor ao vivo do que nas gravações (e olha que já é impecável). Alcance vocal absurdo, epiglote poderosa, sobe e desce de notas, drive então… tudo isso sem nenhum vídeo pra provar. É na base do confia: foi incrível. A única crítica: de 21 músicas, 5 eram covers. E nenhuma era Unravel. Eu sei, essa musica é o diabo para cantar e colocar na seltlist numa turnê? Nem pensar! Mas sonhar é de graça, né?

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Ah, e achei fofo demais a caixa de cartas para Ado na entrada. Nada de presentes — e faz todo sentido, porque ela está em turnê mundial. Imagina carregar um Pikachu de pelúcia de 2 metros de país em país? As cartas, sim, cabem na mala e no coração.

E bem tirando o atraso e a segurança mais rígida que já vi na vida, foi um show impecável. Um concerto imersivo, emocionante e inesquecível. Espero de coração que Ado e sua equipe tenham sentido o amor caloroso brasileiro e voltem logo. Nem que seja só pra tomar aquele açaí que ela disse ter amado.

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Nathalia Souza

Artista, tradutora, animadora, programadora e ainda com formação em mecâtronica e marketing, sou uma menina que não sabe bem o que quer da vida. Emo de carteirinha, vivo indo em shows e eventos para aumentar minha coleção de memórias. Vivo no mundo da lua, e talvez seja por isso que me considero astronauta.

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