- por Joao Paulo
Não existe uma forma maior de protesto do que contar a história como ela deve ser contada. Uma das melhores características do cinema nacional e saber como contar boas histórias com cunho social muito forte, que faz o público pensar, refletir e ganhar conhecimento sobre causas, sobre movimentos, sobre etnias e sobre seu próprio povo.
É assim que o filme “A Flor do Buriti” que estreia dia 4 de julho nos cinemas brasileiros, depois de ser premiado no Festival de Cannes em 2023. Esta produção da Embaúba Filmes junto com outras parcerias, conta a história da tribo indígena Krahô misturando passado e presente numa história sensível, poética e brutal.
O longa dirigido pela dupla João Salaviza e Renée Nader Massora é uma obra que merece nossa atenção e nos pega desde os primeiros minutos, onde vamos descobrindo mais sobre esta tribo que vive de forma harmônica com a natureza e vê seu futuro ameaçado quando recebem de presente um boi que simboliza o prenúncio de um massacre ocorrido no ano de 1940.
A narrativa é bastante rica ao retratar a vida dos indígenas, seus hábitos, suas crenças, seus rituais, tudo de uma forma bastante cuidadosa pelos diretores que optam uma filmagem menos invasiva possível, intercalando entre o contemplativo e o distanciamento curioso de enquadramentos que visam deixar que os próprios personagens contem sua própria história cotidiana ganhando voz e senso crítico da própria realidade.
É notório como “A Flor do Buriti” é uma obra importante, não só por mostrar uma realidade brutal das invasões a terras indígenas, mas também por sensibilizar através de personagens como Patpro, Jotát, Hyjnõ e Crowrã mostrando a vida na mata, a diversidade indígena e a forma como o país trata seus nativos mais antigos. Isto fica muito evidente principalmente na metade final.
O filme tem uma aura de drama documental, mas no final das contas é muito mais que isto. É um filme sobre pessoas, como todos nós brasileiros, tem seus direitos, tem suas terras e merecem respeito. A narrativa cresce ao mostrar ao misturar passado e presente de forma quase que lúdica, mostrando que muita coisa mudou para os indígenas, porém a luta continua a mesma em busca de dignidade de um povo que prega a paz e a não violência, e que incomoda por proteger nas florestas das atrocidades do homem branco, ou cupê, como eles mesmo dizem.
Em termos de produção, o longa tem méritos ao trazer uma fotografia linda de Renée Nader Messora que captura a beleza indígena e a beleza do lugar em que vivem, acentuado por uma montagem sensível, um roteiro que vai se aprofundando a cada cena, com destaque a narração em off do momento do massacre que deve deixar o público no mínimo arrebatado, tamanha crueldade que o ser humano é capaz de fazer.
A narrativa tem sua cadência, mas necessária para que possamos imergir neste universo e entender a vivência indígena de uma forma bastante íntima, capaz de transcender além da tela num filme que sabe sua importância e isto é refletido inclusive nas atuações de um elenco com pouca experiência em atuação, mas com muita vontade de contar sua própria história, com destaque para Ilda Patpro, Francisco Hyjno e Luzia Cruwakwyj, atores que ajudam a dar voz a um povo que precisava deste reconhecimento.
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É notório que “A Flor do Buriti” é cinema brasileiro da melhor qualidade, daqueles que se você tiver chance de ver na tela grande, não deve perder tempo e ir conferir. É um filme sobre uma tribo, mas também é um filme sobre parte importantíssima da história brasileira que precisa ser vista e disseminada, pois a luta indígena também é uma luta nossa e este longa traz uma conscientização muito importante.
De uma forma geral, esta obra nacional é um filme que conta a história dos Krahô através dos próprios indígenas, ganhando em autenticidade, ganhando em profundidade, misturando temáticas que vão desde nascimento e vida, passando pela perseverança atemporal de uma tribo que sobrevive a décadas, chegando até um ponto político que muitos vão reconhecer no momento mais sombrio do Brasil mostrando que a luta está mais viva do que nunca e é preciso tenhamos conhecimento de que é uma luta que envolve todos nós.
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Joao Paulo
Sou Engenheiro Eletricista formado, mineiro, blogueiro nas folgas, super fã de filmes, séries e animes. Apaixonado por Marvel, simpatizante da DC, grande fã de super-heróis no geral. Eu vou ser o rei dos Piratas.
2 comentários sobre “Review | A Flor do Buriti”