Review | Angel’s Egg: um OVA Remasterizado

Review | Angel’s Egg: um OVA Remasterizado

Imagine um mundo tão devastado que o tempo não existe. Você não sabe sua origem; sua existência é uma sombra no vazio. Nesta atmosfera desoladora e intrigante, somos inseridos no universo de Angel’s Egg (título original Tenshi no Tamago). Este filme foi escrito e dirigido por Mamoru Oshii, em colaboração com o artista Yoshitaka Amano.

O longa estreou no Japão em 1985 como um OVA (Original Video Animation). No entanto, chega ao Brasil pela primeira vez no dia 20 de novembro de 2025. Com distribuição da Sato Company, Angel’s Egg chega aos nossos cinemas remasterizado em 4K. De modo geral, OVA é uma produção de anime mais independente. Os criadores, que têm mais liberdade para explorar estilos “não comercializáveis.”

Portanto, essa remasterização e exibição no Brasil são essenciais para preservar mídias fora do padrão do mercado.

Foto/Reprodução: Angel’s Egg (1985) | Sato Company

A história e a algumas interpretações

Olhando por uma perspectiva crua, a história é sobre dois personagens sem nome. Uma garota cuida de um grande ovo, guardando-o embaixo de seu vestido. Enquanto isso, ela encontra um rapaz que carrega uma arma em formato de cruz. Ele traz questionamentos sobre a realidade deles enquanto os dois vagam por uma cidade praticamente abandonada.

Nesse contexto, essa obra remete à passagem de Noé, mas sob a perspectiva de um dilúvio que nunca cessou. Somos inseridos em um mundo pós-apocalíptico, onde a humanidade falhou ao tentar seguir em frente com a civilização. Ninguém se lembra mais do mundo como ele era, e a história se perdeu no tempo. Assim, não se sabe se o que dizem são lembranças, sonhos ou lendas.

Foto/Reprodução: Angel’s Egg (1985) | Sato Company

A narrativa carrega vários simbolismos. Por exemplo, a criança pode representar Maria, carregando a esperança de um novo mundo em sua barriga. Algumas também pessoas veem a nave que aparece no começo e no final do filme como um anjo.

Na cidade, aparecem vários pescadores. Eles estão sempre atrás das sombras de peixes que não existem mais. Assim, quebrando janelas e destruindo prédios, eles tornam o lugar cada vez mais devastado. Isso pode ser uma crítica à fé, quando as pessoas se deixam levar por algo que “não existe,” fazendo esforços em vão que muitas vezes pioram as situações.

Dores que o feminino carrega

Pessoalmente, acho que esse filme não precisa ter um significado ou contar algo objetivo. É belo, sensitivo e, nos dias de hoje, desafiador. Gosto de como ele nos provoca à observar longos planos em que “nada acontece”. Também fiquei encantada com a forma que a trilha sonora toma conta da história. Além disso, a imaginação de quem assiste participa ativamente do enredo. No entanto, se eu tivesse que dizer sobre o que o filme conta, falaria que é sobre abuso e amadurecimento.

Foto/Reprodução: Angel’s Egg (1985) | Sato Company

Como o tempo é algo perdido nesse lugar, podemos deduzir que a garota, embora criança, está há muitas eras tentando sobreviver. Ela tem um olhar cansado, e cuidar daquele ovo não é visto como algo sério pelo rapaz. Geralmente, adultos não levam crianças a sério, mas tudo o que acontece para elas é extremamente importante. Especialmente porque é a primeira vez que experienciam aquilo.

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Aos poucos, ela confia no rapaz. Mas ele ignora o pedido dela de não fazer nada com o ovo, quebrando-o com sua espada enquanto ela dorme. Acordar e encontrar o ovo quebrado foi como descobrir sinais da violência sofrida durante o sono.

Foto/Reprodução: Angel’s Egg (1985) | Sato Company

Depois dessa cena, ela cai em um lago e se afoga. Ao mesmo tempo, ela parece ficar adulta à medida que afunda, enquanto suas bolhas de ar sobem como ovos boiando. Eu vejo isso como a chegada da fertilidade, que sacrifica o que é dito como feminino apenas para procriar.

Vale a pena assistir nos cinemas?

Angel’s Egg é um filme cult, onde o entretenimento ocorre em duas vias: pelo que você está assistindo e pelo que você interpreta no final. Eu realmente gostaria de indicar o filme para todos, pois acho que é um exercício muito interessante. No entanto, pessoas que já estão acostumadas ou têm uma maior abertura para narrativas disruptivas e um ritmo mais lento vão aproveitar melhor a experiência.

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Gabriele Miranda

Audiovizueira pela FAPCOM, adquiri habilidade de fazer bonecos se mexerem pelo Senac Lapa Scipião. Multi-instrumentista e guitarrista na banda Antena Loka, sou pan, vegana e gateira. No tempo livre, estou jogando em algum emulador, andando de patins ou criticando o capitalismo. Talvez eu encontre algum planeta onde me sinta melhor.

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