Por que amamos os vilões?

Por que amamos os vilões?

Vilões deveriam ser odiados, mas muitas vezes terminam conquistando nossos corações. Apesar de pertencerem ao “lado errado”, nos fascinam. E se, além do carisma do personagem e uma boa construção, a resposta para isso também estivesse no discurso que muitos atravessam para reivindicar? Talvez no que eles representam?

Um eco da realidade

Muitos antagonistas não agem apenas por desejo de poder ou destruição. Muitas vezes eles levantam bandeiras que ressoam com problemas reais.

Killmonger expressa dores históricas de opressão racial. Magneto encarna o medo e o ressentimento de grupos marginalizados. Sephiroth busca o pertencimento critica os limites científicos. Roy nos traz uma reflexão sobre a vida artificial e desumanização…

Essas vozes, embora violentas, distorcidas ou radicais, possuem bases reais que conectam com o que sentimos ou percebemos no mundo real. Acredito que por isso, resistimos menos ao vilão e mais ao seu método… ou ficamos divididos. Quem nunca viu um absurdo pela internet e concordou com o Ultron? Ou quem nunca teve vontade de que o Thanos estalasse os dedos no mundo real? Mas todos concordamos que Dolores Umbridge merecia Azkabam (na verdade Avada Kedrava mesmo).

Vilões - Sephiroth
Foto/Reprodução: TCGplayer

A voz sem receios

Quando o herói representa o sistema, o vilão muitas vezes comenta o sistema. Ele revela falhas, seja elas gritantes ou sutis. Ele diz o que, socialmente, muitos evitam — injustiças, desigualdades, privilégios.
Numa era de polarização, redes sociais e visibilidade ampla, essas narrativas antagonistas acabam ganhando destaque, no momento em que o “inimigo” torna‑se instrumento de reflexão.

Nem sempre é aprovação

Amar um vilão não significa desejarmos suas ações. Ao meu ver, trata‑se de compreensão, de entender seus motivos — ou até mesmo atração por sua complexidade e discurso. Eu sempre gosto de me colocar no lugar dos vilões… “E se fosse eu?”, “O que esse sistema fez com ele?”, “Onde está o limite entre vítima e opressor?”
E aí muitas vezes nasce o encanto, quando acima do desconforto, o vilão expõe um espelho que às vezes evitamos olhar.

Vilões - Scar
Foto/Reprodução: Disney

Sem desejar o caos

Amar um vilão não é desejar o caos. É se conectar com a complexidade humana que ele carrega.
É reconhecer que, em um mundo imperfeito, as dores, críticas e revoltas dos antagonistas muitas vezes fazem sentido — ainda que seus métodos não possam ser justificados.

Talvez o fascínio por vilões seja, na verdade, um fascínio pela verdade que eles revelam. Mesmo que doa.

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Miguel Felipe

Geek raiz, analista de sistemas, jornalista por paixão e artesão nas horas vagas. Especialmente viciado em café, livros, tecnologia, histórias em quadrinhos, videogames e ficção científica. De cabelo bagunçado, sempre com fones nos ouvidos, um livro na cara e All Star nos pés.

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