Review | Assassinato na Família

Review | Assassinato na Família

Em Assassinato na Família, a autora britânica Cara Hunter, que é conhecida por sua escrita afiada em thrillers psicológicos, aposta em algo completamente diferente de seus outros livros.
A história parte de um crime antigo: Luke Ryder, marido de uma influente política, que é encontrado morto no jardim de casa em 2003. Um caso que nunca foi resolvido.

Duas décadas depois, uma produtora decide transformar o mistério em uma “docussérie” de true crime. E é nesse formato que o livro se desenrola: roteiros de episódios, transcrições de entrevistas, e-mails, mensagens e comentários online que compõem toda a narrativa. A ideia é transportar o leitor para dentro da sala de produção, acompanhando o trabalho de jornalistas, detetives e especialistas em busca da verdade.

O formato que inova (e confunde)

Esse é, sem dúvida, o grande trunfo, mas também o maior desafio do livro. Hunter recria com maestria o clima de bastidores de um programa de TV, tornando a experiência imersiva, dinâmica e visualmente interessante. Há páginas que simulam telas de prompts, postagens em fóruns e até anotações de roteiro.

Por outro lado, essa estrutura fragmentada e pouco linear pode causar confusão, especialmente para leitores que preferem uma narrativa mais fluida.
Para o meu TDAH, o excesso de trocas de personagens, “câmeras” e de elementos espalhados pelas páginas exigiram muito mais concentração do que o habitual — e o meu ritmo da leitura sofreu demais com isso. Em alguns momentos, a cabeça precisa trabalhar triplicado para reconstruir o fio narrativo e tentar entender o que ler na página. Confesso que precisei deixar o livro de lado em vários momentos, porque não conseguia avançar.

O que funcionou bem para mim, foi pegar um caderno e fazer anotações, para me guiar na linha de pensamento da história — mas isso eu só podia fazer quando estava em casa ou no horário de almoço.

Assassinato na família quote
Foto/Reprodução: Eu, Astronauta. Trecho do Livro “Assassinato na Família” (Editora Trama)

Começo lento, mas recompensador

Outro ponto que vale mencionar é que o livro demora a engrenar. As primeiras páginas funcionam quase como uma fase de adaptação, porque é preciso se acostumar à proposta antes que a história realmente prenda. Mas quando o leitor entra no ritmo e começa a montar o quebra-cabeça junto com os personagens, o suspense cresce de forma consistente.

As reviravoltas são inteligentes, as pistas estão bem plantadas e o desfecho é satisfatório — recompensando quem persistiu no início mais truncado.

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Crime solucionado

Assassinato na Família é um livro que desafia convenções. É criativo, ousado e oferece uma experiência quase multimídia, como assistir a uma série documental, só que no papel. Por outro lado, exige paciência e concentração. Não é uma leitura leve nem linear, mas é recompensadora para quem aprecia inovação narrativa e mistérios bem construídos.

Se você ama true crimes, podcasts investigativos e formatos experimentais, vai se sentir em casa. Mas se procura uma leitura fácil e direta, talvez seja preciso respirar fundo antes de mergulhar.

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Miguel Felipe

Geek raiz, analista de sistemas, jornalista por paixão e artesão nas horas vagas. Especialmente viciado em café, livros, tecnologia, histórias em quadrinhos, videogames e ficção científica. De cabelo bagunçado, sempre com fones nos ouvidos, um livro na cara e All Star nos pés.

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